O que é Expografia?

O que é Expografia?

Expografia é o conjunto de técnicas para o desenvolvimento de uma exposição.  A expografia é um espaço construído, físico e simbolicamente, constituíd0 por três elementos básicos: o conteúdo, a ideia e a forma e que somados geram a percepção, a experiência estéticaUma expografia é antes de tudo a construção de um espaço (exposição) que pode ser comparada com a tarefa de se escrever um texto; é a soma dos esforços e propostas que procuram estabelecer uma composição rítmica a um discurso preexistente, entendendo os seus processos de concepção e de montagem enquanto um eixo comunicacional dividido entre a fundamentação das ideias, a produção imagética e a sua extroversão.

Em 1993, André Desvallées, no seu Manuel de Muséographie, cria um complemento ao termo museografia, segmentando ainda mais a especialização do profissional responsável pelo espaço do museu, apresentando o termo expografia (exposição + descrição). Nesse sentido, a expografia passa a ser compreendida como a técnica da “escrita da exposição” (BAUER, 2014). A exposição dos objetos pelos quais o museu é permanentemente responsável (ENNES, 2008; GIRAUDY; BOUILHET, 1990), tem o poder de se tornar o elo do contato direto entre o acervo e os visitantes. A partir dela há um desejo de se comunicar uma ideia, um tema, um recorte conceitual e que abrange ações intrínsecas às práticas museológicas. É na sua expografia que o museu se esforça em traduzir os objetos que ele expõe, de modo claro às diversas categorias de público, construindo sua narrativa, entendido enquanto instrumento de educação, cultura e informação.

Expografia do Museu Irmão Luiz Godofredo Gartner

Exposição Histórica Seminário de Corupá: Fé, Formação e Recanto de Paz. História da construção do Seminário de Corupá com exposição de documentos de época, uma maquete da fachada principal do prédio e cenografia com objetos originais da época de construção do Seminário. Expografia de 2014, desenvolvida por TRÍSCELE.

Tipologias das exposições

As tipologias das exposições museológicas são denominadas a partir dos conteúdos e pelo período em que se realizam, observadas três características principais: o valor cultural, a clareza expositiva dos objetos e a relação lógica entre eles. (BARBOSA, 1994) Quanto às tipologias, podem ser denominadas por exposição de arte, histórica, arqueológica, entre outras, de acordo com o acervo que se expõe. Em se tratando da sua duração, pode ser classificada em exposição de curta ou longa duração e itinerante. Há, ainda, a exposição in situ 5, expressão em latim que significa “no lugar”, cuja denominação se dá à exposição que é realizada no próprio local a que se propõe a sua temática, mantendo os objetos em seu contexto e habitat preservados, em razão dos processos museológicos que são desenvolvidos in loco.

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Expografia: abordagens metodológicas

As mensagens trabalhadas na exposição se apoiam em um conjunto de objetos-signos que expostos formam um texto. Toda a dificuldade da tarefa do museógrafo (profissional responsável pela expografia) consiste em traduzir os objetos da exposição de forma muito clara às diversas categorias de público, de uma criança a um especialista de museu. A exposição enquanto um texto a ser lido torna os objetos nela exposta uma mensagem singular que é preciso aprender a decifrar (GIRAUDY; BOUILHET, 1990, p.39).

A expografia em que se inserem os objetos deve dividir junto à narrativa por eles apresentada uma compreensão de um discurso fundamentado que, somado ao trabalho do(s) especialista(s) que desenvolve(m) o projeto museográfico, pode acrescentar a percepção das multiplicidades sociais, possibilitando leituras heterogêneas. O mesmo objeto pode adquirir um sentido e um valor muito diferentes conforme a sua situação no ambiente criado para a sua apresentação.

Os objetos de uma exposição, tratados como um elo entre o público e o acervo tem na instituição um papel importante no processo de musealização, onde a comunidade poderá buscar nesse acervo fragmentos e testemunhos de uma memória, garantindo o valor da sua musealização, inferido como um denunciante de outros tempos, outros espaços e outras tantas experiências – individuais e/ou coletivas, visto que “as exposições têm o enfoque na comunicação do conteúdo e nos mecanismos de informação para ampliação do espaço de troca e possível interação do visitante com o espetáculo museológico”. (ENNES, 2003, p.7)

Na concepção de uma exposição museológica imbui-se um discurso capaz de propiciar a sua fruição, como um exemplo ao qual seja possível estabelecer correlações entre a teoria e a práxis museológica, enquanto uma atividade com procedimentos técnicos distintos; marcada pela reflexão ante ao acervo exposto, pois, “nessa perspectiva as exposições devem ser compreendidas” e identificadas como “diretamente relacionadas com o processo de produção de ideias/imaginários e bens sociais reconhecidos pela sua materialidade”. (CUNHA, 2005, p.3)

Expografia do Ecomuseu Doutor Agobar Fagundes

Exposição Novas Fronteiras entre Museu, Territórios e Culturas.  O módulo “Casa no Campo” foi inspirado na música homônima, de Elis Regina. Ele apresenta uma cenografia com objetos do cotidiano do homem rural, além de evidenciar outros usos que o espaço do Ecomuseu Doutor Agobar Fagundes (Blumenau/SC) possuía: era a residência de campo da família Fagundes. Expografia de 2014, desenvolvida por TRÍSCELE.

O espaço Construído

Uma exposição museológica passa a ser entendida, antes de tudo como um espaço a ser construído, constituída por três elementos básicos: o conteúdo, a ideia e a forma e que somados gerariam a percepção, a experiência estética. (PRIMO, 1999, p.107)

A exposição pode ser observada como um espaço além da sua forma física e arquitetônica e passa a ser o espaço de produção de narrativas, a partir das estratégias e linguagens que nela se utilizam, buscando entender os diversos papéis do objeto e sua origem, percebendo a existência de um todo que se relaciona unindo a concepção da exposição, o projeto arquitetônico do museu e o espaço que se constrói, somados às obras e objetos que se expõem. (ENNES, 2008, p.17)

A concepção do circuito, do conteúdo e da forma proposta à exposição museológica está diretamente ligada ao pano de fundo a que ele o museu se insere, observando-se as interferências geradas no seu espaço, por meio do design que se propôs à fruição da informação e dos objetos expostos, buscando notar o tênue limite entre a proposta e as possíveis interferências neste processo, em detrimento às escolhas e alternativas tomadas.

Fundamentação das Ideias

Ao se pensar na fundamentação da ideia de uma exposição enquanto um eixo comunicacional podemos observar a existência de um esforço em se conjugar os distintos elementos que a compõe, buscando dar um sentido ao projeto expográfico. Nesse âmbito, a exposição passa a ser observada enquanto um texto a ser escrito, dadas as infinidades de interconexões que se estabelecem e se relacionam permitindo diversas “leituras” do seu conteúdo. Entendido a exposição enquanto um eixo comunicacional, articulado em três eixos: a fundamentação, a produção imagética e a extroversão. (CUNHA, 2005, p. 2)

A exposição museológica quando comparada como um texto a ser escrito, pode-se perceber que ambos se articulam em torno da delimitação de um tema e de um título buscando estabelecer o conteúdo, a ideia e a forma na construção do discurso, a partir de cada uma das etapas que se seguem, como a delimitação dos parágrafos, em um texto, e dos módulos expográficos, no caso da exposição. Desse modo, o texto a ser lido é construído pelas palavras que formam cada um dos seus parágrafos e pelos objetos que se inserem em cada módulo expositivo.

Construção de um discurso expográfico

Fonte: BAUER, Jonei Eger. A Construção de um discurso expográfico: Museu Irmão Luiz Godofredo Gartner. Florianópolis, UFSC: 2014.

A Produção Imagética

A “produção imagética” se constitui na materialização e na explicitação do discurso institucional, amparando-se por meio dos objetos e dos diálogos possíveis de se construir entre eles. (CUNHA, 2005, p.2) Deve-se aqui, observar que a expografia não é neutra, e a linguagem utilizada por ela é viabilizada por meio de elementos que acrescentamos aos objetos, o que pode fixar e reforçar seu conceito ou dar abertura a novas leituras, capazes de assegurar múltiplos discursos e interpretações que podem ser percebidos em uma única exposição.  (ENNES, 2006, p. 34)

A forma da exposição diz respeito à maneira como vamos organizá-la, considerando a organização do tema (enfoque temático e seu desenvolvimento), a seleção e articulação dos objetos, a elaboração de seu desenho (a elaboração espacial e visual) associados a outras estratégias que juntas revestem a exposição de qualidades sensoriais. (CURY, 2006, p.43)

A extroversão expográfica

A extroversão é o momento em que o público lê o texto que se escreveu e interpreta essa narrativa, por meio de todos os elementos que configuram uma exposição. Na intenção de estabelecer o diálogo com o público, o museu busca apresentar o seu acervo por meio da sua exposição.

A extroversão de uma expografia se caracteriza como um discurso, uma estratégia informacional em um contexto de comunicação, reforçando uma ideia, uma proposta conceitual, ao tempo em que participa de um projeto de preservação de referências patrimoniais. Nesse sentido, a construção de um discurso expográfico é capaz, também, de revelar, comungar e evidenciar elementos que se desejam explicitar, dentro de um discurso anteposto.

Painel de abertura da exposição histórica de longa duração Fé, Formação e Recanto de Paz. Visita do governador do Estado de Santa Catarina, Senhor João Raimundo Colombo.

Painel de abertura da exposição histórica de longa duração Fé, Formação e Recanto de Paz do Museu Irmão Luiz Godofredo GArtner (Corupá/SC). Visita do governador do Estado de Santa Catarina, Senhor João Raimundo Colombo e assessores. 

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Referências:

BAUER, Jonei Eger. A Construção de um Discurso Expográfico: Museu Irmão Luiz Godofredo Gartner. UFSC: Florianópolis, SC, 2014. 117 p.

BARBOSA, Fernando López. Manual de montaje de exposiciones. Instituto Colombiano de Cultura: Museo Nacional de Colombia, 1994. 114p.

CUNHA, Marcelo Nascimento Bernardo da. Exposições Museológicas como estratégias de comunicação. Seminário: Exposições Museológicas como estratégias de comunicação, Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, 2005, 23p.

CURY, Marília Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2006. 160p.

ENNES, Elisa Guimarães. Espaço construído: o museu e suas exposições/ Dissertação de mestrado. MAST/Unirio. 2008.

_______. A Narrativa na Exposição Museológica. [texto digitado apresentado à disciplina de Pós-graduação em Design – O lugar do narrativo na mídia visual: temporalidade paralela]. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-Rio, 2003. pp.1-9.

GIRAUDY, Danièle; BOUILHET, Henri. O museu e a vida. Trad. Jeanne France Filiatre Ferreira da Silva. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1990, 100 p.

 

 

Publicado por na(as) categoria(as) Design, Expografia, Triscele.

Museólogo com mestrado em Turismo e Hotelaria. Desenvolve consultorias e pesquisas relacionadas a Serviços Turísticos, Planejamento do Turismo, Desenvolvimento Local e Turismo Cultural. Na área de Museologia, atua principalmente nos seguintes temas: Gestão Museológica, Design Gráfico, Expografia e Documentação Museológica. Pesquisa estudos em Patrimônio Imaterial, Patrimônio Industrial e Patrimônio Alimentar.

Comentários para "O que é Expografia?".

  1. Renato Souza: disse:

    Legal. Quais os profissionais que envolvem-se nessa atividade? Existe orientações para o desenvolvimento da expografia?

    1. Jonei Bauer: disse:

      Boa tarde Renato!
      Os profissionais envolvidos na expografia podem ser os mais variados possíveis, o que vai delimitar quais profissionais trabalharão nessa etapa, assim como o tema da exposição, os objetivos, etc, pois cada expografia tem suas especificidades e particularidades que as tornam única.
      Em relação à orientações para desenvolvimento de expografia, há profissionais de museus, arquitetos, design, entre outros, que estabelecem algumas diretrizes em relação à cor, iluminação, circulação, altura e fontes de textos, imagens, circulação e outros, sem esquecer dos manuais e indicações de segurança que são estabelecidos pelo Corpo de Bombeiros.

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