Design de Exposição em Museus

Design de Exposição em Museus

A experiência sensorial em museus passa a ser observado como o elo que dinamiza a interação entre o acervo que se expõe e o público. Ennes (2008) diz que os museus devem ser observados como espaços delimitadores e contextualizadores, que atuam na construção de memórias: “os edifícios e construções de todos os tipos são máquinas enunciadoras. Elas produzem uma subjetivação parcial que se aglomera com outros agenciamentos de subjetivação” atuando, assim, no conjunto, como “uma transferência de singularidade do artista criador de espaço para a subjetividade coletiva” (ENNES, 2008, p.12)

Para Cunha (1999) uma exposição museológica caracteriza-se como um discurso, uma estratégia informacional em um contexto de comunicação, sendo as exposições realizadas por instituições e indivíduos com o objetivo de reforçarem uma ideia, uma proposta conceitual, ao tempo em que participam de um projeto de preservação de referências patrimoniais. Ainda segundo esse autor, a exposição é, também, revelar, comungar, evidenciar elementos que se desejam explicitar, e este desejo pode estar relacionado a um momento histórico, uma descoberta científica, uma produção estética, um ideal político. Não deve a exposição ser entendida como fim de um processo, mas sim como uma “obra aberta”, alimentada e realimentada permanentemente, articulada e articulando-se com outros elementos do sistema do conhecimento e referências culturais. Neste sentido, as exposições nos colocam diante de concepções, de visões e abordagens do mundo, portanto, expor é também, e, sobretudo, propor.

Exposição Histórica Seminário de Corupá: Fé, Formação e Recanto de Paz. História da construção do Seminário de Corupá com exposição de documentos de época, uma maquete da fachada principal do prédio e cenografia com objetos originais da época de construção do Seminário. Expografia de 2014, desenvolvida por TRÍSCELE.

“… a concepção e montagem de uma exposição, ou seja, a passagem do nível conceitual para o nível prático implica no acompanhamento de um diálogo entre os objetos, os espaços, as cores, a luz, as linguagens de apoio e a visualização do público potencial.” (ARAÚJO, BRUNO, 1989, p. 13)

Primo (1999) diz que o museu se distingue de outros instrumentos culturais, pois é nele que se tem uma elaboração pública do ato expositivo, onde a exposição assume o centro das atividades museológicas. A expografia se assume como um recurso de comunicação.

No que versa a função comunicacional, o museu tem em sua exposição a tarefa de estabelecer o contato direto entre o que se expõe e o público. O trabalho do profissional do Design é de suma importância, pois é por meio dele que a exposição toma fôlego, transformando a exposição, além da sua ideia, em um “espaço construído” por meio dos elementos visuais, cujo intento seria o de gerar a sinestesia no espectador. Podemos, portanto, entender que uma exposição museológica pressupõe um projeto museográfico que carrega no seu bojo outros projetos como arquitetônico e luminotécnico, gráfico e design dos suportes e outros elementos, que, junto com as pesquisas, formam um conjunto de informações e definições que a geram. (ENNES, 2008, p.15)

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Bauer (2014) aponta que a expografia em que se inserem os objetos deve dividir junto à narrativa por eles apresentada uma compreensão de um discurso fundamentado que, somado ao trabalho do(s) especialista(s) que desenvolve(m) o projeto museográfico, pode acrescentar a percepção das multiplicidades sociais, possibilitando leituras heterogêneas. O mesmo objeto pode adquirir um sentido e um valor muito diferentes conforme a sua situação no ambiente criado para a sua apresentação.

A exposição deve ter uma identidade […]; para isso na museografia, se faz necessária a inserção e a criação da identidade visual da exposição (abrangendo logotipia, padrão cromático, padrão tipográfico, entre outros necessários para a correta aplicação da mesma) que deverá ser única e conversar com a proposta museográfica. Neste ponto o designer também se torna peça chave para o desenvolvimento, pois pode aplicar seus conhecimentos técnicos para uma melhor identificação da exposição com os objetivos e com o público. (LANDEIRA, 2010, p. 43)

Museu Irmão Luiz Godofredo Gartner | Expografia | Seminário de Corupá: Fé, Formação e Recanto de Paz | Módulo Construção

Segundo John Heskett (2005): “design is to design a design to produce a design”, ou seja: design é desenvolver um projeto para a produção de um produto. Assim, a exposição museológica passa a ser entendida como o produto final, observando-a enquanto uma área específica do Design – o Design Estratégico -, que pode ser entendido como uma abordagem multidisciplinar que visa potencializar a inovação lidando com complexas relações do mercado contemporâneo, buscando a resolução de problemas corporativos. (LANDEIRA, 2010, p. 22) Design Estratégico estaria, portanto, relacionado ao futuro, exigindo uma demanda de previsões e de respostas rápidas visto as constantes mudanças ambientais pelas quais perpassamos. Seria possível alinhavar que, ao se antecipar possíveis e prováveis cenários, o design estratégico atua como um componente fundamental para o incremento da competitividade. (Ibid. 2010, p. 23)

Uma das áreas de pesquisa em Design nos últimos tempos é o Design Emocional, que se caracteriza pelo foco na relação e interação emocional entre os usuários e o meio que se projetou, bem como o entendimento de que os produtos podem passar a promover experiências capazes de evocar sinestesias (Design de Experiência). Tal preceito pode ser observado visto que é latente a ideia de que as pessoas têm a capacidade de estabelecer relações afetivas com os produtos que as cercam e nesse sentido o Design pode ser capaz de projetar e proporcionar experiências prazerosas aos usuários. Podemos observar que esse conceito mostra a preocupação atual do Design centrado no ser humano e não mais somente no objeto e seus aspectos objetivos. (Mont’Alvão e Damazio, 2008).

Diante desse cenário, uma exposição museológica passa a ser compreendida como um elo entre o Design e a Museologia, onde cada uma dessas ciências tem a sua contribuição para o êxito preterido, como por exemplo, onde através do design de produto se projetam os suportes e os elementos de mobiliário e de exposição. Já no design visual podemos observar que a sua função vai além do comunicacional, que é a de comunicar a exposição, tanto ao público visitante, quanto ao público em geral. O design de uma exposição, além de atribuir outros paradigmas tais como o design gráfico, tem a capacidade de proporcionar a ambientação ao projeto, tomando, assim, cada item isolado parte de um todo complexo, interagindo constantemente com o design de emoção para tornar a vista ao museu/exposição memorável ao visitante, levando em consideração os aspectos pertinentes ao usuário e sua experiência.

A programação visual de uma exposição tem o poder de complementar o planejamento da apresentação do acervo no sentido de criar um padrão visual para a expografia, comunicando mensagens que podem ser percebidas pelos visitantes, tanto a nível racional (caráter informativo) quanto ao sensorial (caráter estético). (ALEMBERT; MONTEIRO, 1990. p.29)

[…] a concepção e montagem de uma exposição, ou seja, a passagem do nível conceitual para o nível prático implica no acompanhamento de um diálogo entre os objetos, os espaços, as cores, a luz, as linguagens de apoio e a visualização do público potencial. (ARAÚJO, BRUNO, 1989, p.13)

A Tríscele foi a pioneira na inserção de Códigos QR CODES em espaços museológicos. Museologia, Tecnologia e Inovação.

Bauer (2016) observa que o design de uma exposição se encarrega na escolha de cores, elementos e texturas, de vitrinas, suportes, textos e etiquetas, e de todos os materiais necessários à explicitação das ideias e dos conceitos que se almejavam. A soma desses torna possível a materialização do discurso institucional através dos objetos e da inter-relação entre eles dentro de um enredo, abarcando elementos gráficos, visuais e sensoriais, tais como, intensidade da luz, da cor e do tom dos ambientes, capazes de provocar sensações estimuladoras da memória, aguçando a sensibilidade e estabelecendo conexões e que potencializariam o processo de cognição.

A extroversão da expografia caracteriza-se como um discurso, uma estratégia informacional em um contexto de comunicação, reforçando uma ideia, uma proposta conceitual. Ao tempo em que participa de um projeto de preservação de referências patrimoniais. Nesse sentido, o design de exposição é capaz, também, de revelar, comungar e evidenciar elementos que se desejam explicitar, dentro de um discurso anteposto.

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Assim, o Design de exposição visa aproximar os conceitos e processos de um projeto expográfico, pensando o seu Design de experiência (experience design), capaz de evidenciar experiências sensoriais nos usuários do museu. No campo do Design, este tem sido o foco central em exposições de ambientes temáticos desde meados da década de 1800 com as “Feiras Mundiais”, onde se recriavam ambientes imersivos e espaços públicos para criar experiências memoráveis de aprendizagem (BERGER, 2007; LANDEIRA, 2010; PESAVENTO, 1997).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEMBERT, Clara Correia; MONTEIRO, Marina Garrido. Exposição: materiais e técnicas de montagem. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1990. 86p.

ARAÚJO, Marcelo Matos, BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Exposição Museológica : uma linguagem para o futuro. Cadernos Museológicos, Rio de Janeiro, n. 2, p. 12-17, dez. 1989.

BAUER, Jonei Eger. A Construção de um Discurso Expográfico: Museu Irmão Luiz Godofredo Gartner.UFSC: Florianópolis, SC, 2014. 117 p.

BERGER, C. et al. What is exhibition design? Suíça: Rotovision, 2007.

CUNHA, Marcelo Nascimento Bernardo da.Exposições Museológicas como estratégias de comunicação. Seminário: Exposições Museológicas como estratégias de comunicação, Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, 2005, 23p.

ENNES, Elisa Guimarães Espaço construído: o museu e suas exposições/ Dissertação de mestrado. MAST/Unirio. 2008.

_______. A Narrativa na Exposição Museológica. [texto digitado apresentado à disciplina de Pós-graduação em Design – O lugar do narrativo na mídia visual: temporalidade paralela]. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-Rio, 2003. pp.1-9.

LANDEIRA, Gabriela de Oliveira. Design de exposição : estudo de caso – Design UFRGS. Trabalho de Conclusão de Curso. Design, UFRGS: 2010.

MONT’ALVÃO, Claúdia; DAMAZIO. V. Design, Ergonomia e Emoção. Rio de Janeiro: FAPERJ, Mauad, 2008.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições Universais: Espetáculos da Modernidade do  século XIX. Editora Hucitec – São Paulo. 1997

POLO, Maria Violeta. Estudos sobre expografia: quatro exposições paulistanas do século XX. Dissertação de Mestrado em Artes, São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2006. 326f.

PRIMO, Judite Santos. O sonho do museólogo. A exposição: desafio para uma nova linguagem museográfica. In: Cadernos de Sociomuseologia, n. 16, p.103-129, 1999.

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Museólogo com mestrado em Turismo e Hotelaria. Desenvolve consultorias e pesquisas relacionadas a Serviços Turísticos, Planejamento do Turismo, Desenvolvimento Local e Turismo Cultural. Na área de Museologia, atua principalmente nos seguintes temas: Gestão Museológica, Design Gráfico, Expografia e Documentação Museológica. Pesquisa estudos em Patrimônio Imaterial, Patrimônio Industrial e Patrimônio Alimentar.

Comentários para "Design de Exposição em Museus".

  1. Alessandra Hilda Gomes Resende: disse:

    Excelente texto! Mas me incomodou a expressão “Design de Exposição em Museus” (entendo que o uso do termo surge a partir da revisão bibliográfica). Essa é uma das áreas de atuação de quem se forma em Design de Ambientes/Interiores. A meu ver, esse tema tratado a partir do Design seria melhor denominado como Design de Ambientes Museográficos (minha singela opinião como Designer de Ambientes que atua com a criação de exposições museográficas). Parabéns pela qualidade do conteúdo!

    1. Saty Jardim: disse:

      Prezada Alessandra Hilda, obrigado pelo comentário.
      O termo Design de Exposição em Museus vem mesmo da literatura, além de que, alguns cursos universitários no Brasil, dispõem dessa disciplina em seus currículos. Nossos textos são pensados justamente para proporcionar o debate e a criticidade na área dos museus! Sua opinião é muito importante.

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